quinta-feira, 27 de outubro de 2016

A SEPARAÇÃO DEVERIA SER UMA CONSTRUÇÃO A DOIS - POR FABRÍCIO CARPINEJAR

Se a paixão é uma invenção a dois, com troca de projetos e planos, a separação não pode continuar sendo uma decisão unilateral.
Não pode seguir como uma intervenção egoísta. O que costuma ocorrer é um desabafo desinteressado: "Não quero mais, e que cada um siga seu caminho". 
Toda uma história em comum é jogada fora.
Quem começou a brincadeira deve ter a coragem de terminá-la, e não sair no meio porque acabou a vontade.
O fim também precisa ser uma construção do casal, e não somente para casais com filhos.
É essencial sentar frente a frente e entender o que aconteceu de errado, avaliar as crises e rupturas, descobrir onde a lealdade desanimou, onde o remorso se agigantou.
Ser um casal também na despedida, partilhando as lembranças e a autoria dos problemas.
Talvez venha a nascer, da compreensão, a amizade e, quem sabe, o renascimento da atração.
Reunir-se com calma e carinho para expor o que não funcionou, e para experimentar um luto menos sofrido, com a distribuição dos lugares a frequentar e modos de interagir.
Sou favorável a uma última viagem do par que está se afastando. O contrário de uma lua de mel.
Ao definir o término, os dois tirariam uma semana de folga para ficar uma semana relaxando e dormindo no mesmo quarto, trancado num resort.
Assim como existem cursos de treinamento profissional em hotel, fariam um destreinamento sentimental, destinados a resolver as diferenças e não respingar ódio e raiva entre os amigos e conhecidos.
A dupla atravessaria uma imersão amorosa forçada, férias de ruptura, para passar a limpo o relacionamento. De preferência num lugar bem bonito, uma ilha paradisíaca, em que os hóspedes são enamorados e dispostos.
Não haverá melhor teste de resistência. Ambos vão tirar uma febre se realmente desejam permanecer longe, ou se era somente uma fase triste de cansaço e estresse, o que chamo de blecaute de personalidade.
Com outros casais por perto, estarão sujeitos ao extremo dos sentimentos, vulneráveis à nostalgia, à inveja e à angústia.
Haverá ainda crises de ciúmes em caso de amor sincero (Onde esteve? com quem estava conversando?) ou de indiferença na hipótese de rompimento verdadeiro.
Será que suportariam café na cama e jantar à luz de velas? Será que resistiriam a uma praia ensolarada? Será que sobreviveriam a uma rodada de drinques coloridos e afrodisíacos? Será que não cederiam às tentações da recaída em ambiente romântico?
Pois, quem quer se afastar, não dará a mínima ao luxo e ao conforto, estragará qualquer cenário com sua implicância.
Mas aquele que, por dentro ainda está casado, verá no desfecho mais uma esperança de ser feliz.
Terminar é também se entender e se fazer entender.

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